Estive na apresentação do livro de Miguel Veiga O MEU ÚNICO INFINITO É A CURIOSIDADE na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.
A biblioteca, construída há poucos anos nos jardins do Palácio de Cristal, tem um enorme anfiteatro e vários espaços destinados a apresentações, conferências e exposições. Continua a denominar-se assim, muitos anos depois de o verdadeiro Palácio de Cristal ter sido demolido, o que pode significar a nossa saudade da velha construção e dos bons momentos ali vividos. Os jardins estão muito bem preservados e são como eram na minha infância quando tudo de bom que nos acontecia fora de casa (a nós portuenses e nortenhos) era no Palácio ou na Foz.
O anfiteatro estava cheio, que digo, as pessoas de pé eram tantas como as sentadas. Só me recordo de ver uma sala semelhante, quando esteve aqui o António Damásio a falar sobre as relações entre razão e emoção, Todos queriam ouvi-lo afirmar ao vivo que os nossos sistemas neurológicos não eram diferentes para a razão e para a emoção.
E sugerir "que certos aspectos do processo da emoção e do sentimento são indispensáveis para a racionalidade. No que têm de melhor, os sentimentos encaminham-nos na direcção correcta, levam-nos para o lugar apropriado do espaço de tomada de decisão onde podemos tirar partido dos instrumentos da lógica".
Lembro-me disto a propósito de Miguel Veiga, que me parece prova e exemplo destes raciocínios. Vejo a emoção e o sentimento bem vivos no seu discurso mas também a lógica que determina as suas decisões depois de passarem por aquele processo complexo.
Se bem que haja momentos em que parece dominado pela emoção, é isto que quero dizer, (quando se trata de discurso, pode ser apenas técnica, quando se trata de pensamento é autêntico), a razão e a lógica aparecem a moderar. Penso que nunca é dominado nem por uma coisa nem pela outra.
É um homem de grande talento, inteligência e generosidade, muito interessado pelo mundo que o rodeia, e que é um certo mundo.
Apresentou o meu livro Ana Augusta em Moimenta da Beira, terra de alguns dos meus antepassados e dos dele, onde também gosta de voltar. Foi brilhante na sua apreciação e nas suas palavras, e eu fiquei perdida de desvanecimento. Não tive acesso ao texto que, segundo o autor, não foi lido senão em parte: o discurso foi quase inteiramente improvisado e assim se terá perdido… para mim. Foi uma forma de evitar que me envaidecesse em demasia.
Na Biblioteca Almeida Garrett, ontem, ouvimos o elogio da personalidade do autor feito por Marcelo Rebelo de Sousa e a réplica eloquente do autor que foi um elogio a Marcelo. Tratando-se de duas figuras públicas tão conhecidas e admiradas... fiquei surpreendida. Esperava ouvir falar da obra, apesar de compreender que, sendo uma colectânea de textos escritos ao longo de vários anos sobre os temas mais diversos, não era fácil falar dela.
A sessão continuou com um leitor/actor a ler alguns textos e, como entendi que a sua leitura não lhes acrescentava valor e vi que numerosas pessoas começaram a sair, saí com elas.
Tenho tempo de pedir o autógrafo ao meu ilustre vizinho.