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Infinita curiosidade

por Zilda Cardoso, em 30.09.08

 

Estive na apresentação do livro de Miguel Veiga O MEU ÚNICO INFINITO É A CURIOSIDADE  na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

A biblioteca, construída há poucos anos nos jardins do Palácio de Cristal, tem um enorme anfiteatro e vários espaços destinados a apresentações, conferências e exposições. Continua a denominar-se assim, muitos anos depois de o verdadeiro Palácio de Cristal ter sido demolido, o que pode significar a nossa saudade da velha construção e dos bons momentos ali vividos. Os jardins estão muito bem preservados e são como eram na minha infância quando tudo de bom que nos acontecia fora de casa (a nós portuenses e nortenhos)  era no Palácio ou na Foz.
O anfiteatro estava cheio, que digo, as pessoas de pé eram tantas como as sentadas. Só me recordo de ver uma sala semelhante, quando esteve aqui o António Damásio a falar sobre as relações entre razão e emoção, Todos queriam ouvi-lo afirmar ao vivo que os nossos sistemas neurológicos não eram diferentes para a razão e para a emoção.
E sugerir "que certos aspectos do processo da emoção e do sentimento são indispensáveis para a racionalidade. No que têm de melhor, os sentimentos encaminham-nos na direcção correcta, levam-nos para o lugar apropriado do espaço de tomada de decisão onde podemos tirar partido dos instrumentos da lógica".
Lembro-me disto a propósito de Miguel Veiga, que me parece prova e exemplo destes raciocínios. Vejo a emoção e o sentimento bem vivos no seu discurso mas também a lógica que determina as suas decisões depois de passarem por aquele processo complexo.
Se bem que haja momentos em que parece dominado pela emoção, é isto que quero dizer, (quando se trata de discurso, pode ser apenas técnica, quando se trata de pensamento é autêntico), a razão e a lógica aparecem a moderar. Penso que nunca é dominado nem por uma coisa nem pela outra. 
É um homem de grande talento, inteligência e generosidade, muito interessado pelo mundo que o rodeia, e que é um certo mundo.
Apresentou o meu livro Ana Augusta em Moimenta da Beira, terra de alguns dos meus antepassados e dos dele, onde também gosta de voltar. Foi brilhante na sua apreciação e nas suas palavras, e eu fiquei perdida de desvanecimento. Não tive acesso ao texto que, segundo o autor, não foi lido senão em parte: o discurso foi quase inteiramente improvisado e assim se terá perdido… para mim. Foi uma forma de evitar que me envaidecesse em demasia.
Na Biblioteca Almeida Garrett, ontem, ouvimos o elogio da personalidade do autor feito por Marcelo Rebelo de Sousa e a réplica eloquente do autor que foi um elogio a Marcelo. Tratando-se de duas figuras públicas tão conhecidas e admiradas... fiquei surpreendida. Esperava ouvir falar da obra, apesar de compreender que, sendo uma colectânea de textos escritos ao longo de vários anos sobre os temas mais diversos, não era fácil falar dela.
A sessão continuou com um leitor/actor a ler alguns textos e, como entendi que a sua leitura não lhes acrescentava valor e vi que numerosas pessoas começaram a sair, saí com elas.
Tenho tempo de pedir o autógrafo ao meu ilustre vizinho.
 
 

 

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publicado às 12:21


7 comentários

De Augusto Küttner de Magalhães a 30.09.2008 às 15:55

Efectivamente os Jardins do Palácio de Cristal continuam muito acolhedores, tal como a Biblioteca Almeida Garrett, que com todos os seus espaços, poderia ser mais e melhor aproveitada, neste nosso Porto, mais - tão - necessitado de Cultura! Naquele cogumelo que substitui o verdadeiro Palácio em tempos demolido, faz um ano que houve uma exposição interessante se bem que reduzida sobre Leonardo da Vinci - patrocinada pelo BCP! - muito interessante. Quanto ao António Damásio de quem muitos não gostam por ir racionalmente "buscar" as emoções, está agora a estudar "O bem e o mal olhado pela perspectiva biológica" que tem muito interesse. Vamos lendo o que vai estudando! Zilda para quando mais um livro seu?

De Zilda Cardoso a 30.09.2008 às 16:37

Agradeço muito os s/ comentários, sempre simpáticos e oportunos. Quanto a um novo livro... não sei. Mas é claro que ainda tenho umas coisas para dizer.

De Augusto Küttner de Magalhães a 30.09.2008 às 16:50

Por certo que são "coisas" valiosas que com todos deve partilhar!

De VIGUILHERME a 01.10.2008 às 10:23

Sim, era um encontro comunitario,todos se apinhavam para ouvir ,ver, e partilhar um momento que sentiam ser unico por qualquer razão ,homenageavam esse espaço tempo......homenageavam a presença humana ,o afecto ,a escrita ,o livro,a memória,e......estavam presentes ........sim há varios modos de agradecer,de homenagear,mais alargados ,mais restritos ,mais intimos mas são todos modos de estar presente e partilhar momentos unicos e significativos da vida e que perpetuam as matrizes da vinculação ao registo, á memória,aos afectos,ao devir ..........

De Zilda Cardoso a 01.10.2008 às 14:07

Muito obrigada, VIGUILHERME, agora compreendo. Na ocasião fiquei, pelo menos, surpreendida, não compreendi o que se celebrava. E pareceram-me um tanto ou quanto redundantes aqueles discursos panegíricos. Em geral, não me entusiasmam nada. Mas, sem dúvida, gostei de partilhar um momento significativo da vida da M. V. a quem muito estimo.
Agradeço os s/ oportunos comentários que são sempre muito bem-vindos

De Maria de Lourdes Beja a 02.10.2008 às 14:38

Aqui estou de novo a dar-lhe conhecimento de que a tenho lido e gostaria de ter um pouco mais de tempo para também poder dizer-lhe "como" a tenho lido. Acho muito interessante a maneira elegante como nos deixa perceber, por entre as linhas com que traduz as suas apreciações, a posição do seu real apreço, numa escala de valores seus, cujas gradações são ditadas por variados factores que vão desde o cultural ao social, ao sociológico, ao tradicional, ao regionalista, ao intelectual e ao mais puro e simples ( ? ) humanismo... Deixo-lhe os meus votos de um maravilhoso outono, como parece anunciar-se e de uma bem preenchida "rentrée", como também parece anunciar-se...Mª de Lourdes

De Zilda Cardoso a 02.10.2008 às 15:10

Muito obrigada pelas suas palavras sempre tão simpáticas: faz-me bem ouvi-las ou lê-las. São apreciações inteligentes e atentas e generosas. Talvez a M. de Loudes seja uma outra heroína que apreciaria conhecer melhor para também a dar a conhecer.
Quando o Outono me lembra o Inverno, não gosto do Outono. Mas por vezes, o Outono lembra o Verão e aí estou com ele. Este ano, parece ser este o caso.
Um abraço para si, querida amiga. ZC

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