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(imagem de Marcolino Osório)
Do telhado, vê as minhas migalhas no chão. Estica o pescoço, espreita, tenta ver melhor, de outro ângulo. Desce e entra e, por momentos, saltita no espaço agora muito ocupado por mesas e cadeiras.
Acerca-se mais, não há nada interessante. Anda sem medo por ali, percorre todo o pequeno sítio turbulento daquela zona da estação do caminho-de-ferro e nada encontra que lhe sirva.
Volta a sair do lugar, desiludido o pombo-outrora-próspero, voa para fora. Ninguém lhe presta atenção.
Um casal e um neto com alguma coisa de ciganos na sua atitude, na cor da pele e na roupa atravessam o espaço das migalhas em direcção ao comboio.
O lugar está a revelar-se mau para o pombo, nada proveitoso nem atraente. Ouviu falar de uma crise, não compreende o que isso é.
(Já estarão mais magras, as pessoas da crise, mas os anúncios de dietas para emagrecer são cada vez mais e mais importantes.)
As pessoas têm de comer, pensa o pombo, por isso deve haver migalhas. Têm de comer…
… mas comem também as migalhas. Anunciou, “comam também as migalhas”, o altifalante da estação numa voz roufenha e indecifrável.
Comem também as migalhas, essa é que é a verdade!
Pois!
E o pombo saiu dali.
(imagem fantástica de Jorge Cardoso)
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