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A propósito da arte rupestre que visitei há dias no vale do Côa, lembrei-me de nomear aqui Edgar Morin em O Paradigma Perdido, o seu grande sucesso de 1973.
“… no período magdaleniano, a pintura mural com ocre e com negro de manganês, assim como a gravura na rocha ou no osso, é uma arte muito desenvolvida e que os símbolos, sinais e grafitos são utilizados correntemente.”
“Durante muito tempo, limitamo-nos a admirar, nesses fenómenos, o nascimento da arte, em vez de ler neles o segundo nascimento do homem, quer dizer, o nascimento do homo sapiens”.
"Num sentido, o desdobramento geográfico constitui a aquisição de um novo modo de expressão e de comunicação que é uma primeira escrita."
"Por outro lado, arte quer dizer, destreza, habilidade, precisão, invenção no saber-fazer que os predecedores do sapiens já tinham desenvolvido nas actividades práticas e designadamente na caça, aventura-se e desdobra-se num campo novo que é o das produções próprias do espírito (imagens, símbolos, ideias...."
"... duas interpretações, uma que reconhece pura e simplesmente o aparecimento de uma actividade artística e de uma via estética que encontram finalidade em si próprias, e a outra que integra a nova arte das formas numa finalidade ritual e mágica."
“…a decoração, o adorno, a escultura, a pintura, podem ter valor de protecção e de sorte e encontrarem-se ligadas a crenças mitológicas e a operações rituais. É por isso que se supôs que as pinturas rupestres de animais, legadas pela pré-história correspondiam a ritos mágicos, preparatórios da caça”.
“A existência do duplo é atestada pela sombra móvel que acompanha cada um, pelo desdobramento da pessoa no sonho e pelo desdobramento do reflexo na água, quer dizer, a imagem.”
“… a imagem… contém a presença do duplo do ser representado e permite, por seu intermédio, agir sobre esse ser; é esta acção que é propriamente mágica: rito de evocação pela imagem, rito de invocação à imagem, rito de possessão sobre a imagem (enfeitiçamento).”
“É aqui que podemos compreender a ligação entre a imagem, o imaginário, a magia, o rito.”
“O próprio do ritual mágico, no homo sapiens, é dirigir-se não só directamente aos seres de que se espera uma resposta, mas também às imagens ou símbolos que se supõe localizarem em si… o duplo do ser representado.”
“… para o sapiens, todo o objecto passou a ter uma dupla existência”. “…a existência da sua presença no espírito, fora da percepção empírica sob a forma de imagem mental… imagem relembrada”.
“… o que o grafismo mural nos revela é a ligação imaginária com o mundo”.
(Desenho: CNART/PAVC do 01 Cadernos do Côa)
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