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Solidariedade entre gerações

por Zilda Cardoso, em 04.03.12

 

 

 

Saber que este é o ano europeu do envelhecimento activo e da solidariedade entre gerações só é importante porque o tema é do interesse de toda a sociedade e merece por essa razão ser discutido.

É actual, portanto.

E conveniente.

É conveniente e oportuno por ser este um momento de crise que não é especialmente económica – merece uma revisão total das ideias aceites há muito e que nos levaram já tão longe quanto não desejávamos ter ido.

 

Quero dizer, temos recebido e gozado os benefícios dos regimes muito evoluídos economicamente, mas começamos há algum tempo a conhecer o reverso da medalha e a sofrer os prejuízos. O que nos leva a crer ou a julgar que estamos a exagerar nos desejos de abundância e de democracia. E que nos devemos inquietar.

 

Há muitas pessoas que estão a preocupar-se. E a não ficar apenas pela preocupação, felizmente.

 

Foi apresentado por Mário Crespo na Gulbenkian um livro com textos de Laurinda Alves e fotografias de Isabel Pinto que fala de sete projectos que em Portugal foram apoiados pela Fundação.

Rui Vilar falou com carinho e interesse nestes empreendimentos que foram desafios bem sucedidos e aconteceram, estão a acontecer, em Lisboa, em Aveiro, em Beja, em Bragança, em Foz Côa e em Leiria.

 

Vou falar muito sobre o tema – quero transformá-lo na minha CAUSA para os próximos anos; neste momento, reproduzo algumas palavras de Laurinda Alves a partir do livro Entre Gerações:

 

“A solidariedade entre gerações nem sempre é espontânea, mas pode ser construída. Ensinada, aprendida, treinada e estimulada de forma a haver mais continuidade e proximidade entre gerações”.

 

“A partir dos 60 não criamos filhos, não estamos em período de construção profissional e, talvez, já não estejamos numa fase de descoberta amorosa”, dizem os que vão avançando na idade”.

 

“Convém afinar o olhar e perceber que a idade maior pode não ser só um período de declínio”.

 

“Sabemos que há diferentes maneiras de envelhecer…”

 

“Numa sociedade que cultiva o mito da eterna juventude e ignora, desvaloriza ou despreza os idosos, é importante não ter ar de velho. Como é que isso se consegue? Tentando permanecer curioso, móvel, autónomo, presente e próximo. Como é que isso se faz? Com a ajuda das gerações mais novas, até porque estas vivem na crença de que são eternas e invencíveis”.

 

 

(A imagem representa a capa do livro de que se fala, com fotografia de Isabel Pinto - é um avô e uma neta da zona de Foz Côa em amorosa interacção. Talvez sejam de Castelo Melhor, origem de alguns dos meus ancestrais. O vaso do coração natural, que eu rego e acarinho todos os dias, foi-me oferecido por uma grande amiga a quem presto homenagem).

 

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publicado às 09:24


6 comentários

De Miguel Vieira a 04.03.2012 às 19:42

Interessante!
Uma outra maneira de não envelhecer é manter-se aberto em termos de aprendizagem. Nunca é tarde para aprender!

De Zilda Cardoso a 04.03.2012 às 20:28

Mas é isso mesmo que quero dizer: os mais velhos verão a sua sabedoria revalorizada. E isso é possível porque o cérebro, sendo dotado de enorme plasticidade, um treino constante, estímulos contínuos e diferenciados fazem aumentar a sua plasticidade e as suas capacidades. Mantendo-o vivo. E incluso na sociedade.

De Marcolino a 04.03.2012 às 23:45

Olá Zilda!
A meu ver, a solidariedade, nasce no seio das familias, transmite-se de pais para filhos, como se fôsse uma grande árvore que, durante o seu crescimento, até à sua fase adulta, deverá ser sempre muito bem tratada para que produza, eternamente, bons e saudáveis frutos, de modo que, os mais velhos, alcancem a sua velhice, vivendo-a com lucidez, vivacidade, e tranquilidade.
Abraço
Marcolino

De Zilda Cardoso a 05.03.2012 às 09:08

É isso mesmo, Marcolino.
Mas, às vezes, o elo da solidariedade quebra-se e, no seio da família, não é mais possível ter uma criança pequena mesmo com o avô ou avó. Tem que ir para a escola aprender coisas que os mais velhos em casa não lhe sabem ensinar. Os pais acham que é preciso que os filhos aprendam e se mantenham a par do que os outros aprendem. Se calhar já estão a pensar num futuro mercado de trabalho. Talvez possa haver lugares onde avós com culturas diversas possam ensinar voluntariamente, e dentro das suas competências, crianças muito pequenas que não são necessariamente os seus netos.
Há que pensar muito bem neste assunto. Até porque, quanto aos avós, sendo necessário que se mantenham independentes e não pesados para as famílias, só têm vantagem em manter-se activos e portanto ajudar os mais novos ensinando-lhes o que sabem, não necessariamente ciências ou artes, mas... A VIVER. Que é o mais difícil de tudo, mas vale a pena, é o que sabemos menos.

De Vicente a 05.03.2012 às 10:25

Gostei muito, está muito bem defendida a causa dos Avós e de uma maneira original e que nunca li até agora.

Que tal uma Universidade para Avôs/Avós?

A Zilda seria a Magnífica Reitora, a sério, pois tem muita inspiração para propor o programa:-)

De Marcolino a 05.03.2012 às 12:29

De acordo, Zilda!
Mas as grandes árvores, se forem bem preservadas, imunes aos virus dos lenhadores predadores, sobrevivem ao longo de décadas, mesmo perante certas tempestades da evolução social.
Minhas filhas e seus primos foram crianças priveligiadas porque tiveram um dos avós, por sinal o meu pai, sempre atento ao seu crescimento, desde que nasceram.
Faziam passeios quinzenais, de autocarro, metro, comboio, e cacilheiros, por esta linda Lisboa. Era ve-los, os cinco netos, rodearem o avô, numa chilreada constante e alegre, para tomarem conta dele... Saíam manhã cedinho, para regressarem às suas casas, ao final da tarde. Uma vez por mês, juntava os cinco netos em sua casa, para passarem com ele, um belissimo fim de semana. Ainda hoje, já bem adultos, e com filhotes, se recordam dessas doces aventuras com o meu pai. Os coleguinhas de liceu ficavam admirados ao escutarem deles estas aventuras com um avô, já setentão, mas de espirito bem jovem e solidário.
Quando adoeceu, entre os dois filhos, escolheu vir viver para minha casa, por estar próximo da sua, e não por preferencia. Então foi ver a minha filhota mais nova, a Rita Maria, fazer questão de partilhar a sua cama com o avô, para que ele ficasse mais cómodo e sob a «vigilância» das duas netas.
Meu pai foi um avô moderno, sempre presente, sempre atento ao seu crescimento fisico, intelectual, um bom mestre das coisas boas da vida, e grande moderador das coisas mundanas.
Quanto aos meus amigos, já avós, procuro incutir-lhes aquilo a que sempre chamei, e meu pai teve, de um bom relacionamento, com os netos. Passear, brincar, divertirem-se, mas não se emiscuirem na educação dada pelos seus filhos e noras. É fundamental!
Meu pai, semanalmente, reunia seus filhos e netos, para almoçarmos em familia. Almoços vulgares mas partilhados desde o mais velho até ao mais novito. Sempre pugnou, discretamente, pela união familiar, não com palavras, mas sim com os seus actos.
Pelo que observo, aqui no meu bairro, certos avós fazem de ama-seca, para ir buscar os netos à creche ou mesmo ao liceu. Esta fórmula não é saudável porque há a obrigação de.., e não a livre reunião em familia.
Mas isto sou eu a dizer. Outros que contem as suas vivências!
Abraço
Marcolino

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