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Ultimo dia de Carnaval - dos três dias a abarrotar de folias e gorduras, este é o dia mais gordo, a que se seguirão muitos dias de privações: não posso imaginar como gostaria que fosse. Como gostaria que fossem só quarenta dias.
A minha viagem foi tão peculiar como qualquer. E fomos os três. Por uma vez… eis a diferença: a minha amiga e o pequenino de cabelos aos caracóis, reguila, sem dúvida, e bonito que eu sei lá, bom, são e saudável, ainda não completamente arruinado pela cidade… foram comigo.
“… a cidade é uma infelicidade organizada”, diz o Bloom 2 ou talvez o Gonçalo M. Tavares. Mas eu achei que a cidade devia estar alegre e galhofeira ontem, Mardi Gras, na Baixa. E fomos os três, como disse.
Havia carrosséis e pipocas de cores variadas e balões que eram automóveis Faísca e criancinhas vestidas de bruxas e de diabos e uma noiva já crescida de rendas brancas a arrastar na sujeira. Tudo de um mau paladar a toda a prova, sem necessidade de demonstração. E o silêncio não penetrava ali: eram berros de arrepiar.
Acho que não vi caretos, gostava de ter visto, fora do Museu.
Andamos de carrossel, os três muito juntinhos num só banco, espantados como se nunca tivéssemos andado às voltas e às curvas, a subir e a descer, com as pipocas na mão num saco estreito e alto; daí a pouco, pipocas por todo o lado, às cores.
Tínhamos caminhado desde a Torre dos Clérigos, aos pulos e risinhos, a descer, com lojas dos lados sem fineza nenhuma, velhas lojas antiquadas, longe do esvaecido encanto das tradicionais. Nada para admirar agora, nenhum perfume, nada.
Um de nós está a aprender muito e não vai esquecer. Eu só comparo: não gosto da avenida dos Aliados nem da outra como são agora, cinzentas e feias e ácidas. A minha amiga procura conciliar.
Não sei se tem futuro esta cidade a partir do que se vê na Praça da Liberdade. Os ruídos estão todos ali concentrados. Mas acho que há ainda pessoas que pensam e vale a pena ouvi-las, são cada vez menos. Essas não deitam lixo no chão no pressuposto de que alguém virá apanhar, mesmo neste dia meio-feriado. E eu imagino o que seria se ninguém viesse apanhar nunca os detritos do chão, aqueles que alegremente são jogados fora sem outro pensamento.
Não sei se tem futuro, esta cidade. Proximamente, votarei num Presidente que mande ensinar as pessoas a guardarem o seu lixo nos caixotes respectivos, talvez na habitação. E o seu barulho também.
Quando voltar a casa terei percebido.
Nesta cidade “...cada um é inseparável da sua maldade”, recordo ter ouvido ou lido, lido.
Fomos tomar chá ao Astória nesse mesmo sítio, chá versus coca-cola, já que não consegui dissuadir o mais jovem de a beber, mesmo num lugar muito pouco nada americano. Coca-cola! A tal que dá prazer - o último prazer desta terça-feira de prazeres - e provoca danos irreparáveis em materiais duros, como pode ele acreditar? Ou não acreditar?
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