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Desconhecia que tinha em casa um livro tão importante como Uma Viagem à Índia, que alguém simpaticamente nos tinha oferecido há um certo tempo.
É de Gonçalo M. Tavares, um jovem cheio de imaginação e de cultura, tão bom e talentoso escritor, nascido em África, crescido na Europa, ganhador de todos os prémios portugueses e de alguns estrangeiros, cento e sessenta, não, 210 traduções dos seus livros em trinta e dois, em 44 países, Jerusalém considerado um dos mais importantes romances de todos os tempos, talvez o seu primeiro romance…
Nestes tempos difíceis, que seca, de desassossego para Portugal e para a Grécia e para todo o mundo ocidental, apenas uma viagem à Índia nos pode livrar de dificuldades. É claro que, tal como aconteceu com o Gama e com o Bloom de G.M.T., a Índia não nos salvará de nada, a Índia vai desiludir-nos, “não viajamos para nenhum paraíso”, sabemos que “todas as viagens são sempre um regresso ao passado donde nunca saímos”, diz o E. Lourenço, tão pessimista como sempre.
Na realidade não nos querem na Europa e nós nunca a quisemos, nunca. Só estamos felizes quando lhe viramos costas e então realizamos coisas curiosas e importantes. Gostamos de olhar para o longe, para longes terras que nos podem dar ilusões e fantasias. Viver o dia-a-dia na sua casa, na sua terra, na sua Europa é muito aborrecido. E não dá para escrever epopeias como a de Ulisses tal como fez Homero na sua Ilíada ou na Odisseia, não sei bem, nem como a do Gama em Os Lusíadas como fez Camões, nem como a do Bloom em Uma Viagem à Índia como fez Gonçalo.
Tem que haver algum mistério na nossa vida e também brilho.
Aqui, este bocadinho de terra europeu é capaz de ser separado facilmente do resto da Europa juntamente com a Galiza – deixando a Europa melhor, mais certinha, mais organizada; assim como a Grécia podia ser separada, são apenas aqueles farfalhos de terra, não faziam falta e não fazem e iríamos navegar nós no Atlântico, os Gregos no mar deles - o Egeu ou o Mediterrâneo ou o Jónico.
E os europeus esqueceriam tudo o que eles inventaram – a democracia, a filosofia, os jogos olímpicos, a literatura, a ciência política, a matemática, o teatro… Ficavam muito mais libertos, de cabeça mais leve, sem preocupações.
E esqueceriam, para seu bem, o que os Portugueses descobriram e deram a conhecer ao mundo. Esqueceriam sobretudo a sua importância, como a viu Camões e como nos disse Jaime Cortesão.
Disseram que antes, cada povo tinha o seu pequeno mundo para viver, mas os navegadores deram a ver novas terras, novos povos, novos costumes, novos regimes económicos, novas organizações socias e também novos mares e novos astros, artes e religiões desconhecidas… Uma vida nova foi possível, uma nova forma de pensar, uma moral diferente e novas ciências baseadas nas descobertas.
Em suma, uma cultura nova. Um novo humanismo universalista: o mundo é muito maior do que imaginávamos e é aberto a todos. E é um mundo redondo, de modo que, por muito que viajemos, vamos sempre parar ao mesmo sítio, aquele de que partimos e que não esquecemos.
Uma viagem à Índia, nesta ocasião revolta e complexa aqui, sobretudo aqui, o mais a Ocidente que nos é dado pensar, é uma coisa maravilhosamente prometedora… de uma nova forma de pensar ou de uma nova cultura ou de uma outra moral.
O mais interessante é que já temos a epopeia do herói anti-herói deste século XXI, só nos falta a viagem.
Vou ler a epopeia. Ela dirá o que precisamos saber e fazer. “E tudo sem mentir, puras verdades!"
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