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religião e espiritualidade (1)

por Zilda Cardoso, em 19.07.11

Circula um texto na internet que muito apreciei ler.
Pensava no tema desde há algum tempo e... veio a propósito. Gosto de saber o
que os outros sabem e mesmo o que os outros opinam sobre os assuntos que me importam
e que são afinal de interesse comum.

Este texto trata das diferenças entre religião e espiritualidade - a importância e a conveniência do assunto é pelo menos tão
grande como sempre foi mas é maior nos períodos de qualquer tipo de crise em
que sempre os valores se põem em causa ou se invertem para bem e para mal.

É de autor desconhecido e usa sofismas, mas para mim, que
demorei na sua apreciação, contém também muito claras verdades.

O texto fala de religião, mas a maior parte das vezes quer referir-se a doutrina religiosa. Por isso, diz que há centenas de religiões,
que são conjuntos de regras dogmáticas que falam de pecado e de culpa. Diz que
a religião inventa sem indagar nem questionar; que é uma organização humana com
regulamentos e causa de divisão entre os homens; que se alimenta do medo, que
alimenta o ego, que faz renunciar ao mundo, que sonha com a glória e o paraíso
num outro lugar que vai surgir depois da morte e que não tem nada a ver com o
presente…

Porém, a religião que é espiritualidade não é isto. No sentido antigo do termo é religação ao divino e é no campo da espiritualidade
que nos podemos ligar ou religar ao divino.

Desse modo, religião é espiritualidade.

 

Já sabemos, cada doutrina ou credo é um sistema com
regras difíceis de cumprir e que os que aderiram se sentem na obrigação de
cumprir. E cumprem e confiam na recompensa. Mas há os que pecam, os que fogem à
regra apesar de tudo e esperam o castigo, porque pagaremos sem falha todas as
fugas, dizem-nos.

 

Embora qualquer doutrina seja rigorosa nos preceitos que
impõe, há sempre o medo de não estar a cumprir. A questão pode ser a difícil
interpretação, e é tal o medo de errar que alguns fogem de viver neste mundo tão cheio de tentações, como se diz no texto citado. O melhor é não esperar nada do que é prometido, nem bom nem mau, pois cada doutrina luta pela sua verdade que é a sua interpretação; e luta por mais adeptos, o que traz divisões e conflitos. Há alguma violência na ideia de que tudo o que dá prazer é proibido, mas parece ser assim.

Construir doutrinas e teorias sobre o que Deus pensará
desta ou daquela atitude, nossa, demorou séculos de intensa actividade
intelectual. E sobre o modo como o mundo foi formado. E sobre quem somos, donde
vimos, para onde vamos: velhas questões.

Mas quem pode saber o que Deus pensa? E o que pensou no
princípio… se há princípio?

Mas podemos vir a saber, tentaremos descobrir se
gostarmos de pensar e reflectir em tudo aquilo que envolve mistério. Podemos
criar uma explicação com conteúdo metafísico, no campo da espiritualidade. Que será
tentativa de ligação ao divino. É a religião com os seus mitos própria da cultura
humana tal como outros modos de conhecer – como a ciência, a técnica e a arte.

Se não apreciamos temas difíceis, aceitamos simplesmente
o que nos é dito sem pensar muito sobre isso. E existe aquela crença que
responde às interrogações que nos podemos pôr e a que dá resposta imediata.
Nada comparável a outras disciplinas que pretendem que se trabalhe ao nível do
que é físico (e não metafísico), que necessita demonstrações e experiências,
que tenta ir ao fundo das questões, embora saiba que… no laboratório apenas se descobrem pequenas verdades provisórias.

 

As crenças religiosas surgem sempre acompanhadas das doutrinas
inventadas para explicar o que ninguém sabe explicar; perturbam-nos porque têm
pouco ou nada a ver com espiritualidade ou com Deus, são princípios de moral. Que
moral? Dizem-nos o que devemos pensar e qual a nossa atitude, o nosso
procedimento em todos os momentos, tudo está estabelecido e é assim porque é assim, e
porque há um poder a que temos que nos submeter.

Porém, Deus nunca disse que era assim ou que não era
assim. Também não creio que tenha revelado a verdade a uns quantos, deixando os
outros na ignorância.

A crença de cada um pode ser o acreditar que há Deus como resposta única, como Verdade, e não vale a pena analisar e compreender
nada para além. Também não acho que se possa estudar Deus e explicá-lo de forma
teórica e intelectual. Todavia sinto em mim o desejo de o conhecer. Que nunca
deixará de ser desejo. Mas esse desejo pode levar-me mais além ao encontro de
Deus, isto é, da Excelência, pode levar-me a melhorar, a aperfeiçoar-me, a
aperfeiçoar o meu mundo. Acredito que há um caminho que transcende tudo e, no entanto,
esse, que é o caminho da Verdade, está em mim, está em cada um de nós.

É em nós que em primeiro lugar devemos procurar o sagrado
e depois naqueles que dão exemplo pela sua vida. E depois também… nalguns
lugares, nalgumas palavras, nalgumas obras. Estaremos atentos à voz interior,
questionaremos tudo, como se diz no texto que circula. Não há de que ter medo.

 

Finalmente, o que quero dizer é que o que importa é
distinguir entre o que é doutrina religiosa, sistema de moral com regras
rígidas inventadas num tempo e num espaço determinado e que possivelmente já
não servem, e o que é religião ligação ao divino, forma de conhecimento.

Não há que renunciar a Deus, há que pensar nele. Sabemos
que por mais que a ciência descubra, há um resto que permanece desconhecido,
misterioso, inacessível. Um resto que é o princípio, o mais importante, o elemento
mais simples…

É bom que a maioria de nós pesquise ao nível da ciência sem
esquecer o outro nível. Até porque não temos no presente inteligência bastante…
Talvez cheguemos lá um dia.

Aquelas três velhas perguntas continuam sem resposta.
Como é que tudo isto começou? Como vai acabar? Qual é o nosso papel no meio de
tudo?

 

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publicado às 16:31


28 comentários

De Joana Freudenthal a 20.07.2011 às 13:28

«Qual é o nosso papel no meio de
tudo?». Eu tenho resposta para isto. É amar. É fazer tudo com e por amor. É só isto que me pede o meu Deus. Foi isto que Ele nos veio ensinar.
Não quer dizer que eu consiga sempre... Para isso continuo a caminhar.

Abracinhos para si, Zilda.

De Zilda Cardoso a 20.07.2011 às 18:12

Muito obrigada, Joana.
Amar? Amar e mais nada? Amar é tudo? Caminhar...?
Diga-me. Talvez tenha razão.

De Joana Freudenthal a 29.07.2011 às 19:50

Pôr amor em cada pensamento, em cada palavra, em cada gesto, em cada acto.
Eu bem queria, mas dou um passo em frente e dois para trás... É a isto que eu chamo caminhar. Tentar aperfeiçoar esta prática.

De Vicente a 20.07.2011 às 15:05

Reflexão interessante a sua, Zilda...

Direi apenas que se sente que não está muito consciente ou valorizadora da Tradição perene, da Unidade que subjaz as várias religiões e caminhos espirituais...

Não se tratará, para quem deseja conhecer um pouco mais de Deus do que lhe é servido pelas comuns religiões, de construir uma nova doutrina, ou mesmo "Não há que renunciar a Deus, há que pensar nele", pois o que importa é como bem disse, a sua vida aperfeiçoada, ouvir a sua consciencia e sobretudo tentar praticar o caminho espiritual recomendado pelos mestres de todas as religiões, tradições e tempos e que passando pela purificação chega à iluminação, à gnose e ao amor...

Abraço luminoso,

Manuel

De Zilda Cardoso a 20.07.2011 às 18:08

Sinto o abraço luminoso, muito obrigada. Trata-se de reflexões que me surgem com frequência. O que gostava era de ter uma vida coerente com as minhas ideias, que é o que não encontro muito naqueles que me rodeiam e se calhar tb não em mim. Apesar dos esforços, falta a coragem.
Procuro sempre as vidas exemplares, certa de que aí haverá lugar para o sagrado para além do profano. Um dia destes, continuarei a expor as minhas reflexões que talvez sejam um pedido de ajuda no tal caminho que gosto de percorrer. Preciso de sossego, posso ainda ter tempo, recuperarei de erros e de perdas tão grandes...

De Marcolino a 21.07.2011 às 10:37

Olá Zilda,
Belo tema, desejava não me manifestar, para não ferir suscetibilidades, porque todas as religiões são estruturadas em dogmas, males necessários, para o aperfeiçoamento comportamental, dos seus seguidores. Minha avó paterna, quando nos ouvia dissertar sobre os dogmas religiosos, dizia-nos: Meninos, a religião não foi feita para ser discutida, foi feita para ser cumprida...
Sim vó, diziamos nós...
Um dia falando com alguém, senti-me desnudado dos meus conceitos religiosos, quando escutei do meu iterlocutor que o seu feitio belicoso não tinha nada a ver com a sua religião e vice versa, e que frequentava o Templo para se sentir mais tranquilo enquando durava o Santo Oficio.
Vá lá alguém entender uma observação destas.
Quanto a espiritualidade ela é, e será sempre, um dom de Deus.
Quanto a Deus; Ele é Uno, é Indiviso, é a Inteligencia Universal plena do tal Amor Fraternal Universal, é a Paz, é a Bondade, é a Partilha, é a Luz, sem ser pertença seja de que relegião fôr.
Abraço
Marcolino

De Zilda Cardoso a 21.07.2011 às 13:59

Não pode ferir susceptibilidades manifestando-se seriamente, honestamente. As doutrinas parecem ser males necessários, sim, têm as características de qualquer grupo que é necessário manter unido, mas que está em permanente conflito com outros grupos que entendem doutra forma as mesmas questões. Tenho pena que se façam guerras tão prolongadas e excessivas por motivos religiosos, um tema que, mais do que qualquer outro, devia suscitar paz e entendimento entre todos os homens. Na verdade, pessoalmente, não me importam esses grupos. Fico feliz ao pensar que não tenho nada a ver com as querelas que inventam e que se calhar são apenas pretextos para guerras que pretendem desencadear por outros motivos.
Vicente compreendeu muito bem e Marcolino também noutra perspectiva.
E, Marcolino, o seu amigo gostava da música, do silêncio talvez, era sensível ao ambiente de misticismo, e isso lhe dava a tranquilidade. Talvez estivesse mais perto da espiritualidade que outro qualquer.
Quanto a Deus… criador do mundo… não tenho, não temos inteligência suficiente para compreender. Tenho mil porquês a que não sei responder. E ninguém sabe. Então vamos aceitar que há o mistério da nossa existência e da existência do mundo que é de tal forma grande, quero dizer, há uma zona de ignorância tão densa que não sabemos nada do que se passa connosco nem com o mundo. Nem perto nem longe. O estado de iluminação calculo que seja aquele em que aceitamos isto sem sofrimento, sem preocupação e vamos caminhando, tentando o aperfeiçoamento. Será? É que é na tentativa de aperfeiçoamento que podemos divergir uns dos outros: vamo-nos massacrar? Ou vamos com tranquilidade descobrindo…

De Vicente a 21.07.2011 às 20:10

A iluminação, como indica, tem a ver com a luz, que recebemos ou a que fazemos... e que nos vai ajudando a compreender melhor o caminho e os mistérios da existencia, caminho da vida onde vamos avançando, na sabedoria, na verdade, na compaixão e no amor...

De Zilda Cardoso a 30.07.2011 às 14:34

Estamos de acordo, Vicente. Obrigada pelo seu comentário que é como que... uma companhia nesta peregrinação.

De Marcolino a 24.07.2011 às 07:47

Bom dia Zilda,
Citando-a, «E, Marcolino, o seu amigo gostava da música, do silêncio talvez, era sensível ao ambiente de misticismo, e isso lhe dava a tranquilidade.»; este meu amigo foi, é, e será sempre um neura compulsivo, enquanto não desejar alterar o seu nivel comportamental, nunca conseguirá entrosar-se com os demais à sua volta, familia, amigos, qiçá a sociedade.
Quanto a Deus e a sua existencia na minha Vida, apenas lhe direi que deixei de questionar a sua protecção, desde que estive a morrer, ainda rapaz novo, e me salvei, por milagre; até os médicos se questionaram!
Resto de um ótimo domingo
Marcolino

De Zilda Cardoso a 30.07.2011 às 15:38

O seu amigo tranquilizava-se no ambiente da igreja, não era assim? Só lá. Haveria outros motivos... Talvez precisasse de mudar de ambiente familiar ou de amigos. Mudar de amigos... deve ser divertido!
Quanto a Deus... não há como ter fé. E não há nada a dizer.
Muito obrigada pelos s/comentários.

De Marcolino a 31.07.2011 às 19:08

Olá, Zilda...!
Quanto ao meu Amigo, ele não é uma figura retórica, é um ser humano, de carne e osso, que tem lutado, quase sem parar, para ser aceite pelos que o rodeiam. Já o conheci assim. Damo-nos muitissimo bem porque me respeita, e vice versa. Também não é de trocar amizades como quem tem que mudar de camiseta de verão, para um polo outonal... Tem poucos Amigos, mas aqueles que o são, puros e verdadeiros, na realidade, jamais o abandonarão!
Quanto a Deus, Zilda, sou um dos muitos Visitadores Voluntários no IPO. Tenho observado casos graves de cancer, cuja recuperação seria nula mas, de um dia para o outro, «inexplicavelmente», tudo se altera até à cura!
Fui operado em meados de 2004 a um cancer no intestino delgado. Em 2009 tive que ser novamente submetido a duas intervenções delicadas e fazer a respectiva quimioterapia. Estou curado! Nem sei como é que me curaram...! Só sei que depois de acordar, no recobro, sentia um grande Força Interior, que me fez recuperar rápidamente.
É nestes locais, entre a Vida e a Morte, que somos confrontados com as chamadas Forças Inviisiveis, que fazem retornar à vida activa, quem Deus entende que deve regressar.
Abraço e boa semana
Marcolino

De Zilda Cardoso a 04.08.2011 às 09:49

Tem tido uma vida interessante, não é Marcolino? Mas tão cheia de sofrimento!... Admiro-o pela coragem e pelo saber...

De Marcolino a 04.08.2011 às 11:37

Olá Zilda!
A minha vida tem sido um somatório de experiencias variadas. Não me vejo, actualmente, como alguém que sofreu, sofre e continuará sem paz de espirito. Gosto de viver, e amo a todos que se amam a si mesmo. Os acidentes de saúde que tive, jamais condicionarão, negativamente, o meu bom viver. Olhei-os sempre como experiencias e nunca como holocaustos condicionantes. O meu saber, constantemente reciclado, vem da forma positiva, como sempre encarei certas vicissitudes que, se forem vistas com olhos sem medos, dão para refrescar as ideias e não ser condicionador de mim mesmo.
Continuação de um ótimo dia!
Marcolino

De Cabecilha a 22.07.2011 às 13:58

"... The very fact that you are still living means that God has some work for you. You have a mission to fulfill, and you are doing it, whether knowingly or unknowingly.

You are not just an individual but part ot the whole. There is a cosmic plan; allow it to happen through you. There is one director; you are all the actors. You have been given a costume and are enacting your part. Until the curtain falls, you have no choice. you cannot change the story while you are on stage. That is the ultimate understanding.

Every house has some parts, a foundation, floor, walls, and roof. Without them, there's no house.What is nonessencial? The decorations, the gardens outside, the plants, light fixtures, and draperies. Thay vary because you decorate to suit your taste. If all houses were the same, it would be very boring. But you don't get bored if you see walls, a foundation, and a roof because you know they are necessary.

Religion also is like that. And the fundamental part is what we call Yoga. We don't worry about the superficial things. That we leave to you. We give you some examples, with different designs. Choose any design you want, or create your own.

"Hinduism", "Catholicism," and "Judaism," all the "isms" are different decorations. But they have some basic principle, that the individual must become fit the realize the Cosmic One, to know that he is not different from the Cosmic One. Let us accept all the different paths as different rivers running toward the same ocean... "

De Zilda Cardoso a 30.07.2011 às 15:53

Adoro esta primeira frase: The very fact that you are still living means that God has some work for you.
Acho uma ideia confortante, por vezes difícil de aceitar, quando pensamos que determinada pessoa que morreu tinha ainda muito trabalho válido para executar... Mas não se trata do n/ critério de avaliação e, por esta ordem de ideias, estaremos prontos a aceitar o que acontece, seja o que for. Haverá uma vontade ou um poder superior que gostaríamos de compreender, mas que não é para compreender. E isso é o que temos que aceitar - que não temos capacidade para entender. Por isso, o melhor é amar e fazer o que se quiser. Portanto, amar sem fanatismo, se bem entendo.
Obrigada pelo texto, vou lê-lo catentamente.

De Cabecilha a 22.07.2011 às 14:01

texto de Sri Swami Satchidananda

De José de Sousa Pinto a 25.07.2011 às 19:17

Caríssima Zilda

Falta-me a capacidade para comentar cabalmente o seu texto, e não conheço aquele que comenta. Mas, como, noutro post, se refere á M J Nogueira Pinto, acabo de enviar-lhe uma bela síntese em que ela explica como resolveu as dúvidas existenciais que todos teremos também.
O meu comentário vai nessa linha:
Ela retira a sua segurança de duas coisas-a Fé, e o serviço prestado a outros.
Ora nada mais é preciso.
Recuso, por mim, a ideia de que "pagaremos sem falha todas as fugas", desconheço as "regras difíceis de cumprir" e o "poder a que temos de nos submeter".
O primeiro comentário ao seu texto já respondia que o Amor era a solução. Conhece certamente a formulação radical e verdadeira
AMA E FAZ O QUE QUISERES
A Zilda respondeu a esse comentário achando-o abstracto, mas, se ler, por exemplo, a descrição dos "serviços" da M J Nogueira Pinto verá que todos podemos, conforme a vocação de cada um, concretizar suficientemente.
Com amizade
José de Sousa Pinto

De Zilda Cardoso a 30.07.2011 às 15:22

Muito obrigada, José S.P. Os s/coment. são sempre bem-vindos e importantes para todos. O texto a que me refiro circulou na Internet e se quiser reencaminho para si.
A M. José, a sua vida exemplar, é daquelas vidas a que me refiro, onde devemos procurar o sagrado. Sim, AMAR é uma solução, mas deve entender-se a que nos referimos quando dizemos amar. Infelizmente para cada um de nós, trata-de de um conceito que parece impenetrável e, em geral, não conseguimos atingir - e parece tão simples! Muitos milhares de anos de cultura e de civilização fazem com que as coisas simples nos apareçam com uma casca dura que as torna difíceis de trespassar.
Gostaria de continuar a discutir o assunto consigo depois de lhe enviar o referido texto e de ler o que me envia da M. José S.P.

De Zilda Cardoso a 30.07.2011 às 19:49

Queria reencaminhar aquele texto sobre religião e espiritualidade, mas não tenho o s/endereço electrónico. Pode enviar-mo?

De Isabel Maia Jácome a 27.07.2011 às 16:43

Querida Zilda... que saudades.
Tenho estado aqui um pouco, nesta hora de mais calor, sob a protecção do ar condicionado que nestes dias, reconheço, sabe bem e ajuda a suportar este Alentejo de 40º!...
Enquanto aguardo a hora menos agressiva de sol para ir para a água... vim a este espaço, um parque de campismo agradável, da Orbitur que fica relativamente perto de nossa casa aqui em Montargil. Já outro diao fiz. Resolvo duas necessidades de uma vez... o acesso à tecnologia, o wirless e o fresco... naõ esquecendo um gelado a que deveria resistir... Outro dia, copiei este texto para o ler com a calma merecida e desejada. Gostei francamente... e o que li transportou-me para reflexões que, faz tempo, procuro e tenho feito.
Obrigada uma vez mais!... e muitas, muitas saudades... aqui deste canto onde nestes últimos dias de férias, tenho pensado muito em si.
Saudades
Isabel

De Zilda Cardoso a 30.07.2011 às 15:30

É tão bom ler as suas palavras! São para mim refrescantes e vêm com um pouco daquele sentimento a que se refere a Joana Freudenthal, minha comentadora habitual e a special one. Por tudo isso, muito obrigado.
Desejo que as s/férias sejam produtivas, i.é, descansativas em todos os aspectos, pois é para isso que servem. Talvez consiga escrever uma poesia aí, ou precisa de um ambiente de sofrimento para poetar?

De Isabel Maia Jácome a 01.08.2011 às 01:15

Minha querida Amiga
Acabadinha de sentar, depois do essêncial arrumado e orientado para a retoma de trabalho, logo mais, às 8.30h!... que bom, também para miml, ler as suas palavras!...
Sobre as férias nem sei o que dizer..., felizmente vou trabalhar apenas duas próximas semanas e regresso mais outras duas para esgotar então o tempo que me permitem de férias. Quem sabe nessa altura consiga poetar por escrito... porque na cabeça, há mil sentimentos, emoções, pensamentos, recordações, nostalgias, exaltações, entusiasmo... tanto que fervilha, tanto desassossego e tanto que se esvai...
...mas creio que é mesmo preciso um certo recolhimento para se conseguir escrever. Não momentos obrigatoriamente de tristeza ou sofrimento... a poesia depende de tantos estados!!!! Não lhe parece?... e o Amor pelo que nos rodeia, a exaltação que a beleza de tanto nos transmite, a própria consciencia da vida, nossa, dos outros, da natureza, da simples possibilidade de sentir apenas..., podem incentivar tantas emoções poéticas...
...mas confesso que não tenho estado produtiva na tinta... ou nas palavras, ou no teclado deste espaço... tenho deixado correr o tempo... e espero que isso possa ser também produtivo... quem sabe, um dia?
Mas agradeço as suas palavras que são sempre tão importantes para mim.
Um abraço bem apertado, cheio de saudades... e um até breve, muito breve!
Sempre,
Isabel

De Zilda Cardoso a 30.07.2011 às 14:40

Tentar aperfeiçoar... é um objectivo muito digno. Devemos saber, para não nos afligirmos demasiado, que a perfeição não se atinge nunca, deve ser por isso, que considerarmos a nossa vida sempre curta: não temos tempo. Mas a perfeição é o que está sempre, um pouco ou muito, mais à frente. Mais à frente.

De Vicente a 01.08.2011 às 00:38

Um amor assim

INÊS PEDROSA

Expresso, 23.07.2011



Não conheci Maria José Nogueira Pinto, mas admirava-a pela frontalidade, pela dedicação às causas em que acreditava, pela coragem.

Deu testemunho de alegria e entrega, com uma elegância absolutamente invulgar, até ao último dia da sua vida. As últimas palavras da sua derradeira crónica para o Diário de Notícias, publicada já depois da sua morte, foram estas: «o Senhor é meu pastor, nada me faltará». Creio que as terá escrito sobretudo para consolar aqueles que mais amava e que mais a amavam – para os certificar de que ficaria bem e para os animar a viverem com a veemência com que ela mesma viveu. O dom da fé não nos é dado a todos do mesmo modo nem se esgota no formato de um Deus mais ou menos escanhoado; cada um de nós tem a possibilidade de escolher entre o amor que acende o mundo e o ódio que o apaga.

Dir-me-ão que nada é tão simples – e não é, de facto, porque escolher o amor significa perder o direito ao conforto da cobardia, prescindir da segurança dos caminhos previamente traçados, estar disponível para merecer a felicidade, isto é, enfrentar de olhos abertos os obstáculos, a dor, a mudança. O texto de Jaime Nogueira Pinto sobre a mulher da sua vida, publicado no Sol da passada semana explica exactamente de que é feito o amor autêntico – e faz desabar as teorias pseudo-científicas sobre a duração da paixão (dois anos, dizem os sábios infelizes), responsáveis pela grande catástrofe do século XXI, que é a da descrença na perenidade do enamoramento. Os divórcios são apenas um iceberg de valentes – quantos casamentos não conhecemos feitos de mentiras consensuais e contabilidades amparadas, tristemente sustentados por crianças que, por isso mesmo, crescem desiludidas quanto à graça do amor?

Jaime Nogueira Pinto recorda o livro único do escritor francês Jean René Huguenin, com um título belíssimo (La Côte Sauvage), para citar uma frase que ambos amavam desde a adolescência, e que definia o amor como «uma extrema atenção». Num mundo que celebra e louva a desatenção, a corrida bárbara para lugar nenhum, eles souberam sempre cultivar essa atenção extrema – extremosa, extremista, radical, absoluta. Porque tiveram a sorte de se encontrar cedo e de cedo compreender, para lá da química e da física (que são essenciais, mas nunca bastam) , que pertenciam um ao outro – que podiam rever-se nos olhos um do outro como em espelhos límpidos. Porque liam os mesmos livros e conversavam sobre eles, porque tinham os mesmos ideais e lutavam por eles, porque atravessaram tempestades e não se deixaram levar pela ventania, porque nunca amputaram os sonhos um do outro nem perderam de vista o sonho maior que queriam construir juntos, porque souberam ser a casa um do outro quando a vida os empurrou para longe da casa e do país que tinham.

Assim viveram um amor intenso durante mais de quarenta anos. Assim, Maria José morreu sem medo. Escreve Jaime Nogueira Pinto: «Foi estóica e heróica, mas a sorrir, lúcida, sem ressentimento nem revolta, aceitando o que achava que agora lhe era exigido». Aceitação é outra palavra caída em desuso, porque na voragem em que escolhemos des-existir a confundimos com resignação ou desistência – e é rigorosamente o seu contrário: só pode aceitar o que a vida lhe apresenta quem sabe quem é e o que quer.

Graças a Maria José Nogueira Pinto, que nunca cheguei a conhecer, acordarei feliz nas mais árduas manhãs, dizendo: o amor é meu pastor, nada me faltará.

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