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Maria José Nogueira Pinto

por Zilda Cardoso, em 08.07.11

 

 

 

Presto
homenagem a Maria José Nogueira Pinto que não conheci pessoalmente, mas que
todos conhecíamos bastante bem desde há anos, em razão da sua presença
constante na vida política.

Acredito
que foi uma lutadora e que defendeu causas boas e justas.

Não
sabia que estava doente, foi completa surpresa a notícia de anteontem. A minha reacção
no momento foi estúpida: como? não se morre assim, sem mais nem menos, de um
momento para o outro, tão nova, tão necessária...

Mas
foi. Foi assim e ficamos tristes e estamos tristes.

Acredito
que foi uma mulher extraordinária que defendeu aquilo em que acreditava com
convicção e entusiasmo, sem condescendência. Sem condescendência… que não leva
a lado algum bom e útil.

Era
muito independente de pensamento e, por isso, não se adaptaria nunca a
disciplina partidária. Ainda há poucos dias a vimos em intervenções políticas
importantes, pudemos ler seus textos de opinião em jornais e na televisão.

Sabemos
quanto era determinada nas suas acções e rigorosa e segura ideologicamente e
culta e, por tudo isso, admirável.

São
estas as características de Maria José que gostava de realçar para que fique na
nossa memória como modelo a seguir.

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publicado às 09:22


15 comentários

De Vitor Raimundo Martins a 08.07.2011 às 17:05

Subscrevo na íntegra o que a Zilda escreveu e deixo uma nota idêntica para o Diogo que também de forma completamente inesperada, nos deixou.

Conheci o Diogo na Faculdade e conforme escrevi noutro local, "ele teve uma carreira brilhante e hoje ao deparar com a noticia da sua morte, não pude deixar de ficar chocado, da mesma forma que fiquei chocado com a morte da MJNP".

Tristes dias os que estamos a passar!

Que significado tem "a crise" à beira disto?!

De Isabel Maia Jácome a 08.07.2011 às 20:44

Subscrevo também!
Beijinho, Zilda!

De Marta M a 08.07.2011 às 23:08

Boa noite Zilda:
Nós sabemos,mas nunca é demais sublinhar.
Tem razão.
Obrigada.
Marta M

De Joana Freudenthal a 09.07.2011 às 01:26

Estamos mais pobres, mas ricos com o exemplo de vida bem vivida que nos deixou. Que privilégio ler o que escreveu! Grande senhora!

«Esperando o pior, confiando no melhor... como o Senhor é meu Pastor, nada me faltará».

Sei que não vai ler isto já, já, já. Depois conte tudo, Zilda.

Beijinho.



De Zilda Cardoso a 13.07.2011 às 09:51

Olá, Joana, vamos ver se consigo contar. Vou agora ver as fotos, talvez tenha algumas que digam com jeito alguma coisa...

De Zilda Cardoso a 13.07.2011 às 18:49

Joana
Não encontrei outra maneira de comunicar consigo Os artigos sobre Hans Freudenthal estão no m/blogue - O fio de Ariadne - de 20 de Outubro a 15 Setembro. São 7 e sairam em 27/9, 22/9, 21/9, 18/9, mais um, suponho que no mesmo dia, e 15/9.
Até logo.
ZM

De maria a 10.07.2011 às 21:16

Aconteceu-me o mesmo que à Zilda, tb fui apanhada de surpresa.
Má surpresa. Tb gostava mto da Mª José. Uma mulher de corpo inteiro.
Beijinhos Zilda por partilhar connosco opiniões tão louváveis.

De Vicente a 10.07.2011 às 22:25

Conheci-a bem quer pessoal quer politicamente. Era uma Mulher de carácter e inteligente.

Daqui a 15 dias estará esquecida e a vida continua.

É o inexorável para cada um de nós. Aliás no mesmo minuto da sua morte morreram igualmente outras Mulheres e Homens semelhantemente dignos de boas memórias e elogios, alguns no completo olvídio dos homens...

Por isso, na minha modesta opinião, há um limite para os "éloges funéraires" em que realmemente ou se foi um verdadeiro fdp ou de repente são todos extraordinários!

Eu preferi gozar em vida do seu exemplo e seriedade e deixá-la agora descansar em paz.

De Zilda Cardoso a 13.07.2011 às 09:44

Sem dúvida, vamos todos deixá-la descansar... não temos outro remédio. Mas é bom lembrar as suas boas qualidades, seja durante 15 horas ou durante 15 minutos, ou durante 15 dias ou 15 anos; as outras esquecemo-las, não interessam, não precisamos gravá-las.
Devemos-lhe alguma coisa, todos e sobretudo todas. Por isso, vamos simplesmente recordá-la ou recordar as qualidades que lhe deram valor e que são exemplares e que como tal ficarão em cada um de nós. Ela, Maria José, enriqueceu-nos espiritualmente e isto tem um valor eterno.

De Vicente a 13.07.2011 às 11:30

Ontem fui à missa do 7º dia e foi bom ouvir o testemunho do Jaime (marido), da Verónica (que foi lido pelo Vasco sobrinho, pois é monja de clausura nas Carmelitas em Fátima) e de uma filha que a acompanhou na doença.

Muita serenidade e aceitação da vontade de Deus. Agora já descansa em paz.

Fez-me muito bem ouvir os testemunhos dos últimos tempos de vida.

De Zilda Cardoso a 13.07.2011 às 13:21

Vicente
Não quer dizer-nos mais alguma coisa do que foi dito pelos familiares?
Gostava muito. Obrigada.
ZM

De Vicente a 14.07.2011 às 10:37

"Terminal", dizia-me alguém há cerca de dois meses, "- Ela está em estado terminal". Vi-a chegar com o marido a esse almoço de amigos, em que participou discreta e aparentemente bem disposta, na sóbria gravidade da sua postura algo emaciada, conversando sem aludir à doença, nem à inquietação ou ao sofrimento por que passava. Era assim que aliava estoicismo e bom gosto. Tinha uma maneira directa e inteligente de abordar as questões, encarando as coisas de frente, dizendo o que pensava, apresentando os seus argumentos com total clareza. Era uma mulher sem ambiguidades nem falhas de coragem e todos os que a leram regularmente nesta página podem testemunhá-lo.

A sua vida familiar, a sua carreira profissional, o seu percurso político, as qualidades de que deu provas, a sua energia, a sua capacidade de análise e de decisão, os êxitos do seu trajecto, as suas posições no tocante à sociedade e ao mundo, tudo isso já veio referido em comentários dos mais diversos quadrantes.

A sua autobiografia sumária, num texto concluído e aqui publicado, no DN, no próprio dia da sua morte, é um dos documentos humanos mais belos e pungentes que me tem sido dado ler nos últimos tempos. Pensando bem, creio mesmo nunca ter lido nada assim: alguém escreve na primeira pessoa do singular na iminência da sua própria morte, quase em tempo real, com uma autenticidade, uma serenidade e uma coragem excepcionais e desarmantes!

É com alguma melancolia que me ponho a pensar nessa relação, afinal transparente, entre saber viver e saber morrer. Como quase toda a gente da minha geração em Portugal, eu tive uma educação católica, embora não seja crente desde a adolescência. Não sinto necessidades de nenhuma espécie de incursão na esfera do transcendente, limitando-me a integrar-me nos chamados valores da civilização cristã e a fruir o que deles possa ecoar nas grandes criações do espírito humano, em especial na literatura e nas artes.

Apesar desse laicismo, impressionou-me profundamente a maneira como ela transfigurou a sua educação católica numa experiência pessoal e muito intensa de intimidade com o sagrado e esta em código de conduta moral e norma de actuação prática na vida de todos os dias. Fiquei com a ideia de que a crença cristã foi por ela interiorizada de tal maneira que tornou cada acto da sua vida numa profissão de fé e num exercício de alegria íntima. Isto é muito raro num país em que a tradição religiosa dominante, a católica, se fica as mais das vezes por rituais esvaziados de sentido e pelo mero papaguear do que se aprendeu na catequese.

Ficou-me também a impressão de que a palavra de Deus em que acreditava - e por isso queria, sabia e conseguia vivê-la como alimento espiritual quotidiano - lhe era, ao mesmo tempo, condição e explicitação constantes de uma plena realização pessoal, na própria ascese que procurava para o seu itinerário, na compreensão tolerante do próximo, nos valores da solidariedade e da cidadania, na firmeza com que defendia os princípios que para ela valiam na vida pessoal e na sociedade.

Fazia isso com a enorme naturalidade de ser uma mulher bem do seu tempo, culta e desempoeirada, aberta à modernidade e, sempre que necessário, questionadora da modernidade, de convicções solidamente assentes e pensamento estruturado, de desassombro nas atitudes e coragem sem limites na assunção de responsabilidades, e também com um trajecto de experiências acumuladas de que soube utilizar as mais duras e amargas para a inimitável têmpera da sua personalidade.

Tenho alguma dificuldade em exprimir estas coisas, mas creio que ela soube forjar uma matriz de confiança nessa via anímica e espiritual que, para os eleitos, os happy few, é em si mesma um caminho de esperança e uma proposta de comunhão e partilha, em que o eterno e o temporal se articulam de modo indissociável, seja qual for o lugar de exílio em que o ser humano se sinta a existir.

Por isso, ao dizer "o Senhor é meu pastor, nada me faltará", nas suas palavras finais, ela citou textualmente o mesmo salmo 23 de que já tinha deixado entrever um dos versículos quando disse que, "graças a Deus", nunca tivera medo: "Mesmo que atravesse os vales sombrios, nenhum mal temerei, porque estás comigo."

Esta densa memória que vamos guardar de Maria José Nogueira Pinto é a sua prova de vida.

De Vicente a 14.07.2011 às 10:38

Já não cabia no post anterior pois cheguei ao limite, mas este comentário é do Vasco Graça Moura.

Muito bonito!

De Zilda Cardoso a 14.07.2011 às 12:45

Muito obrigada, Vicente. Fiquei a saber muito mais de Maria José. E sobretudo a compreender.

De Cabecilha a 14.07.2011 às 18:47

De grande emotividade foi também o seu artigo no DN que foi publicado a título póstumo!

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