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"É preciso procurar o sentido das coisas" (C. G. Jung)
Quando eu era criança, queria ser uma estátua. Não por não
ter de obedecer, nem pela imobilidade, pela ausência de voz, ou de ouvido, mas
justamente porque a imobilidade delas se me afigurava aparente, e o silêncio,
de repente, podia muito bem ser quebrado. Como o seu sangue cinzento, igual ao
nosso, o português, podia colorir-se de vermelho com uma pincelada.
Era capaz de permanecer tempos infinitos diante de uma
estátua, fixando-a, tão imóvel como ela, e acabar por vê-la sorrir-me ou
pedir-me uma coisa. Um dia, uma senhora-estátua de um jardim sombrio do Porto,
pediu-me um espelho, porque aquele que segurava na mão era de bronze, e ela não
se via reflectida nele.
- "Só me cansa ter um espelho de bronze, onde nada
vejo. Se ao menos eu tivesse um espelho a sério, poderia ver-me, ver o céu, os
pássaros, as árvores, e as pessoas à minha volta. Sentiria o tempo a passar.
Porque assim, não sinto, e é como se estivesse esquecida do mundo, perdida para
todo o sempre. Como podemos viver sem receber o reflexo de tudo o que nos
rodeia? É como estar fechada num quarto escuro, num túnel sem saída."
Figuras mudas desta cidade, deste País, desçam dos vossos
plintos de granito, e falem!
Mónica Baldaque
No dia 2 de Maio p.p, Mónica Baldaque inaugurou uma exposição de desenhos de estátuas no Clube Literário do Porto que estará até 17.
Figuras Mudas é o título da exposição a que se refere também o belo texto do desdobrável que aqui publico.
Mónica trabalha na apresentação do seu livro mais recente. Espero dar muito em breve uma notícia sobre essa apresentação.
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