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Estive em
Navarra, em casa de Henrique, o Grande, o primeiro rei Bourbon. Gostei de ver o
Castelo, apreciei a cidade onde tinha ficado há muitos anos, em circunstâncias
especiais. Iniciáramos uma viagem à Suíça, onde o meu marido ia representar os
trabalhadores portugueses na Organização Internacional do Trabalho que todos os
anos se realizava em Genebra.
Decidíramos
ficar já em França na primeira fase da viagem. Chegámos muito cansados, directos do
Porto a Pau, de automóvel. Procurámos o parque de campismo - nunca tínhamos
feito campismo - que encontrámos no completo escuro e constatámos ser um
desastre completo. Para começar, nada mais estimulante!
Não vou dar
pormenores daquela experiência, mas recordo que andámos sem luz, em fila, de
martelo em punho e em riste, pijama e chinelos, prontos a enfrentar inimigos
que nos iriam assaltar na nossa tenda mais que precária e mal montada. Mas ouvíramos
uns estranhos ruídos…
Não sei a que
propósito me lembrou agora o Astérix e a nossa figura de guerreiros primitivos
e um tanto ridículos! Vamos esquecer ou rirmo-nos com a cena nocturna, como der
jeito.
No dia seguinte,
levantámo-nos cedo e seguimos viagem. Da cidade, pouco vimos e não ficámos a
conhecer. Agora pareceu-me olhá-la pela primeira vez. Estive a consultar a história
de Henri, o Grande, o Bom - o seu Castelo, o seu enorme berço, onde, se se
corressem as cortinas cor de sangue e pesadas, ficava a criança hermeticamente
fechada e sem frio, o quarto da mãe, as suas coisas, as salas de jantar e de
banquetes com as mesas de bela madeira escura polida e o design adequado, forma
adaptada à função, a vista esplendorosa das janelas com o sol a entrar, o pátio
invulgar...
Que bonito tudo
isto!
Henri foi o IV
de França, III de Navarra, e achei a sua, uma vida complicada, cheia de
conflitos mas também de amores e de filhos e de esposas e de amantes, de
convicções sem ou com convicção... essas coisas.
Pude ver na sua
expressão (se bem que com um nariz esquisito) um ar bondoso e agradável, era um homem de guerra mas também um
diplomata clarividente e seguro, um "déspota esclarecido", segundo as
informações aqui colhidas. Era eficaz a dirigir os seus homens, mas transigente
num tempo de fanatismo religioso. No entanto, aconteceu o massacre de S. Bartolomeu
em que morreram 3.000 pessoas numa noite em Paris em lutas por motivos religiosos. Sendo de princípio huguenote, achava
sensatamente que podia converter-se ao catolicismo e renunciar ao catolicismo
conforme as conveniências. (Não tem nada a ver com Deus mas com doutrinas). É dele a frase célebre "Paris vaut bien une
messe".
Sonhava dar
liberdade religiosa a uns e a outros, quero dizer, a católicos e a protestantes
– assinou o Édito de Nantes - e foi assassinado em Paris por um fanático
religioso católico que não estava programado para compreender subtilezas…
Tendo vivido
oito anos da sua infância com pastores, raptado e escondido no meio deles por sua mãe, pôde ser tantas coisas diferentes e
continuar bom e popular. Talentoso e preocupado com o bem-estar económico dos seus
súbditos? Parece que sim. Está entendido que trouxe a prosperidade, depois de trinta anos de guerra e de pobreza, a
França a que uniu o seu berço – Navarra.
Gostei de
recordar o que em tempos tinha estudado sobre esta parte da História
para não fazer a figura desesperante daqueles nascidos depois do 25 de Abril em Portugal que
foram há dias interrogados na rua para a TV, julgo, ou não sei para quê. Mas está no YouTube, se quiserem ver, é um lindo video, dramático, de pesadelo. As pessoas, em geral bastante jovens mas adultos, não faziam a menor ideia do
que aconteceu nesse dia de 1974, quem foram os festejados heróis nem quem tinha sido Salazar. Não parecia terem qualquer curiosidade acerca do que ocorreu um pouco
antes de chegarem a este mundo. E do que sucede à sua frente a mais de três
centímetros do nariz quanto mais do que aconteceu há 34 anos! Isso são
velharias, interessam a quem? Mas naturalmente estou errada, me perdoem.
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