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https://zildacardoso.blogs.sapo.pt/o-mundo-em-que-vivo-218390
Dicas sobre uma avó:
Cuidado! É uma querida
Cuidado que ela finge bem
Cuidado! É querida
O poder ela tem
Tudo sobre uma avó
Pode-se aprender
Mas para que isso aconteça
Este poema tem que se ler
Começamos com o sentimento
É o que sentimos pela nossa avó
Temos de sempre ajudar
Nem que seja a limpar o pó
A nossa avó é como uma segunda mãe
O nosso avô como segundo pai
Se queremos ir a algum lado
É connosco que ela vai
Toma conta de nós quando a mãe não está
Toma conta de nós, e gosta bastante
Ela ensina-nos coisas
Até o mais importante
Aqui têm uma ideia de uma avó
Uma avó pronta para ajudar
A minha avó é a Zilda Cardoso
E sei que vai todos agradar
Eu sou a neta
Meu nome é Rita
Não quero ser convencida
Mas à quem diga que sou bonita
Poema para a avó Zilda
De Rita
2009
Tenho um privilégio na minha varanda, entre outros. Vejo dois poentes: um mais brilhante que o outro, belos, irresistíveis, ambos deslumbrantes!
A passarada passa enquanto os dois descem lentamente, orgulhosos de si.
As pessoas passam na avenida e olham.
Para mim, o menos brilhante divide-se em dois, quase mergulha; enquanto o outro, perfeitamente desenhado na parte superior, continua muito dourado alguns centímetros acima do horizonte.
Continuam a passar as aves para norte.
Nesta ocasião, quase mergulha o da esquerda; o da direita, ainda acima do horizonte, continua a exibir-se. muito afogueado.
E pronto, mergulha definitivamente o da esquerda enquanto a face redonda superior do outro cintila ainda acima do paredão.
Até que se vai.
A CASA DA EIRA,
MOLEDO DO MINHO
(projecto do Arq. Álvaro Siza Vieira)
As casas e o terreno foram comprados há 18 anos. Nessa época estava tudo abandonado desde muitos anos, as austrálias cresciam por todo o lado e as canas grossas, as silvas, as heras. Havia um pedaço de muro caído e foi por aí que penetramos no lugar, a golpes de machado, até duas frondosas ameixieiras, carregadas de frutos dourados e sumarentos. Não havia folhas visíveis, só as ameixas mais saborosas que alguma vez existiram fosse onde fosse.
Foi o que nos decidiu.
Não vimos mais nada. Quisemos saber a quem pertenciam aquelas duas árvores e partimos daí, dessa informação, para uma luta que era forçoso vencer.
Não foi difícil: realizámos a nossa compra a uns herdeiros desinteressados por mais ou menos 30 contos.
Disseram-nos então que havia duas casas e mais tarde descobrimo-las. Não tinham qualquer valor arquitectónico , mas quando pedimos ao Arq.to Siza Vieira para as ir ver, ele ficou encantado. Eu tinha-lhe dito que não me importava que deitasse abaixo uma delas mas gostaria que conservasse a outra. É claro que ele respondeu: “Vamos conservar as duas”!
Foi assim que começaram os nossos trabalhos com estas casas rústicas e muito modestas, humildes.
Trabalhos muito variados e especiais. Como seja: da minha parte houve um esforço de conciliação tremendo entre as diversas partes – o arquitecto, o empreiteiro, o proprietário que muito dificilmente se punham de acordo. Houve grandes discussões que terminaram em grande amizade e respeito. O arquitecto é um homem cultíssimo e bem-educado que sabe o que quer, mas vai ganhando certa capacidade de diálogo.
Já nessa ocasião era muito celebrado no estrangeiro, se bem que os portugueses o ignorassem. Há cerca de dois anos, contou-nos ele que um seu projecto tinha sido rejeitado por instâncias oficiais por falta de curriculum!.
Álvaro Siza depois de sentir o lugar, de esperar pela inspiração e pelas ideias faz um esquisso ou vários estudos, desenha com pormenor e depois constrói maquetes. Mesmo assim, a maior parte do trabalho é feito no lugar, observando, tomando notas, experimentando.
Com as casas “quase” prontas, três anos depois, começou a romagem de arquitectos isolados ou de grupos de todo o mundo – vêm fotografar, tocar, extasiar-se.
Tem muita graça, pois de facto alguém desprevenido ou pouco sensível aos valores estéticos não se apercebe, não se dá conta da importância da obra.
Devem reparar na pureza de linhas estruturais, nos ângulos que algumas aberturas permitem, garantindo um caminho para a luz, talvez também fossem para a sombra. Garantindo um prolongamento da casa no jardim a que as árvores decrépitas, a vinha velha e os muros tremidos, dão um ar, muito romântico e minhoto. Reparem na facilidade com que ele harmonizou o moderno com o tradicional sucedendo-se as formas (os volumes) de forma inesperada, mas em ritmo agradável. Significa que o arquitecto foi sensível ao contexto, mas que o seu trabalho se distingue dele sem o esquecer, quero dizer, usou o vernacular português harmonizando-o com os novos modelos. Sem espectaculares invenções, foi transformando o que encontrou atendendo ao sentido da história numa excelente relação arquitectura-natureza.
Da nossa parte, não alteramos muito o seu trabalho, embora consideremos que os espaços sóbrios que ele criou são para a nossa intervenção. Mas também apreciamos um certo purismo, um despojamento e não suportamos aqui nem muita decoração nem conservadorismo.
Aprendemos a gostar da poesia destes espaços tal como estão concebidos e temos a sensação de experimentar assim a beleza essencial para além do funcional e do confortável.
Zilda Cardoso (texto de boa memória, escrito por volta de 1975)
(continuado)
Traçados os contornos daquilo que queremos que seja a nossa vida, o nosso projecto pessoal, não é difícil saber que valores se integram e que outros ficam de fora. Em consequência da definição, saberemos como harmonizar o nosso desejo com o dos outros.
O mesmo se passa com um povo, com uma sociedade que se organiza, se civiliza, que se define quando estabelece uma ordem de valores. Tornar-se-a anárquica se não houver valores em que acreditemos e leis que nos restrinjam mas nos coloquem dentro do projecto da sociedade em que vivemos.
A televisão que entra em nossas casas com o maior à-vontade e insidiosamente, não pode satisfazer apenas os interesses dos que ganham a sua vida produzinda, realizando, interpretando publicitando, investindo em programas cujo interesse é apenas o do MERCADO sem atender a considerações de outra ordem.
Se bem que sejamos uma sociedade liberal e consumista ou a viver como tal, as leis do mercado não podem ser as únicas a que devemos submeter-nos. Apesar de poderosos, os investidores são minoria em comparação com a massa dos espectadores/consumidores (ou dos que os representam) e que usufruem para seu bem ou para seu mal a beleza ou o horror dos programas. É a sua vontade não aleatória mas interessada e conhecedora que deve ditar as regras..
Os governantes que escilhemos por maioria para decidirem por nós têm um programa que devem cumprir, leis em vigor e estão obrigados a levar a efeito aquilo que prometeram e se espera deles - gerir a vida social de modo que possamos vivê-la harmoniosamente. Tal como acontece com a vida familiar... Devem fornecer códigos de comportamento em que os valores colectivos fundamentais sejam respeitados. O que supõe regras muito diferentes das que haveria se cada indivíduo pudesse viver isolado.
(continua)
Seria um desperdício se a televisão fosse usada apenas como entretenimento. É um meio de comunicação que goza da preferência geral e as crianças, desde os primeiros anos, gostam de ver as insinuantes imagens em movimento. Passam horas do seu dia prestando-lhes atenção, apreciando e aprendendo com elas.
Por esse motivo, a televisão é, antes de mais, informação que forma. Nessa medida, é tão altamente benéfica como perigosa, na medida em que é sempre e acima de tudo sedução.
Quando transmite programas que saem dos esquemas que devem orientar a nossa vida em sociedade, causa danos talvez irreparáveis, deforma em vez de formar, como seria desejável.
Preferíamos viver sem um esquema restritivo dos nossos desejos e da nossa liberdade, mesmo sabendo que, desse modo, a vida é mais difícil como vida organizada, mais desafiadora.
É mais difícil. Porém, desde que flexível, aberta em permanência a novas circunstâncias e a novos conhecimentos, o esquema orientador pode revelar-se essencial.
(Vai continuar)
Não me queixarei nunca seja de que injustiça for, se tiver presente o quanto tenho sido favorecida com a possibilidade de desfrutar de uma paisagem sumptuosa. como esta.
Acho que dependeu de múltiplas circunstâncias o facto de poder gozá-la com esta frequência e à-vontade.
Acontece que moro aqui. E podia vivar noutro sítio, numa casa sem janela e sem varanda.
Porém, o que não é aleatório é o saber ver. O ser capaz de distinguir observando, analisando, concluindo de forma precária.
E posso ver o que estou vendo como um presente de quem o criou. Mas não deixar fugir o essencial pode ser um mérito meu.
Que me levará a considerar este espaço exterior como “um espaço fora do espaço” e eu não sei o que isto quer dizer. Não sei mesmo, se bem que preze muito quem o disse.
Sinto um permanente ressentimento em relação a este espaço exterior.
Ele mostra-mo e não me deixa ver o que eu preferia ver com clareza. E lembro sempre o que Ele quer que eu veja e o que ele esconde e quer simplesmente que eu descubra.
Acho-O insaciável de perfeição, no sentido de que não me deu inteligência suficiente para descobrir o essencial, por isso, nunca o poderei descobrir. No entanto, esta insistência em querer que descubra revelará um desejo…
Terei vontade e capacidade apenas para ir encontrando sem perder a esperança de chegar a encontrar. Sabendo bem que não serei capaz, enquanto Ele não quiser.
Desejo independência, mas não sei como conquistá-la.
A menos que esta paisagem de que falo não tenha nada a ver com o que está aqui, cada dia, à disposição do meu olhar a partir da varanda.
Não disse que não acreditava em milagres! Eles estão a acontecer cada dia, todos os dias, em volta de mim, seria difícil!
E um bem transparente de que lhes queria falar é este: o tecto de estuque da minha casa está há 3 anos prestes a cair, numa grande extensão, no centro da sala voltada ao mar….
De cada vez que observo… vejo uma coisa caotica a acontecer dentro de poucos minutos!
É um milagre sem sombra de dúvida, porque não cai. E, quando finalmente cair, será como se um terramoto estivesse a acontecer sub-repticiamente, estremecesse a casa e, em parte, a desmoronasse.
Tenho estado à espera!
E vejo as fendas mais risonhas e os primitivos desenhos ainda interessantes, coloridos e cuidadosamente sombreados.
Haverá acontecimentos entre parêntesis insuspeitos?
O que estará em suspenso?
Chegará o momento certo de destruição, o momento infernal…?
Impressiona-me que não venha daquele interior qualquer ruido nem de mundo nem de asas (por momentos, pensei numa bela surpresa).
Contudo, porque penso que é um milagre, não continuo a procurar razões lógicas.
Recordo a Amiga de quem mereci estima, apreciação, respeito. E também a Escritora que admiro.
Tenho muitos dos seus livros na estante em frente a mim, nunca a perco de vista. Mas o que mais recordo e melhor são os seus pensamentos inteligentes, a sua boa disposição, o sorriso sempre acolhedor… E, do mesmo modo, as cartas, as mensagens telefónicas, as confidências, a sua companhia…
É do que tenho saudade.
Zilda
Viver entre azuis
sem nem uma nuvem
entre mar e céu.
A vela branca e eu
deslizando…
Alguns fios de sol
perto do horizonte
lúcido e longínquo.
Gaivotas brancas
recortadas no azul,
um som suave e morno…
A vida a acontecer
entre céu e mar
Aqui.
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