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Passei em Moledo, Casa da Eira, estes últimos dias…
O tempo esteve maravilhoso: sol brilhante, boa temperatura, cores tremendamente nostálgicas, perfumes a serem esbanjados, outonais, de frutos maduros e doces, matizados, esquisitos. E nenhum ruido de mundos… O silêncio era apenas sedutor e eu usei-o tal qual, nunca foi excessivo.
Deitei-me sob o azul. De vez em quando passava por mim uma borboleta amarelo-esverdeada, quase transparente, batendo as asas sempre no mesmo ritmo, agradável mas enérgico, e eu não pude deixar de pensar que o movimento de uma borboleta daquela cor, digamos, aqui na Casa da Eira num simples dia do princípio de Outubro podia provocar um tufão do lado de lá do mundo.
É claro que somos dependentes de numerosas e muito diversas realidades, mas um bater de asas e um tufão… de que modo se podem relacionar? Os cientistas lá sabem e quando tentam explicar… complicam ainda mais. Serão as frágeis quase transparentes borboletas da Casa da Eira provocadoras dos turbilhões devastadores que sempre acontecem do outro lado do planeta?
Quero crer noutra coisa: estas borboletas simbolizam transformação, renovação, inconstância, efemeridade… E o lugar em que aparecem, é xamânico a que apenas falta o feiticeiro. Beleza tem que baste. E o resto tem… em alusões enigmáticas.
Quanto a mim, que ali permaneci até ao crepúsculo, dei-me conta de uma alteração profunda na minha maneira de ver o mundo. Só. O ambiente era perfeito, confortável, despojado, inspirador.
Durante quase toda a minha vida me esforcei por fazer bem o que achava que tinha para fazer, o que devia fazer para legitimar a minha existência. Executar bem, ou pelo menos, de forma aceitável, o que as circunstâncias, os conhecimentos, os sentimentos, os raciocínios me sugeriam. E sofria imenso quando não conseguia. Tinha obrigações, não é, montes de obrigações! Mas agora entendo: posso deixar isso de lado – para outras pessoas, para outro tempo, para outras galáxias.
O que me deu gosto descobrir é que há uma quantidade enorme de empreendimentos que não me importo de realizar ou não. Não quero saber, não me atormento. E é esse o meu gozo, o prazer da minha nova vida: não quero saber. Não é como antes, por que havia de querer compor eu tudo? Agora não me ralo.-
E ficou tudo bem.
Saí dali triunfante, fui pregar a outras freguesias.
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